domingo, 3 de julho de 2011

A educação é uma ciência? trechos de Anísio Teixeira

http://rizomas.net/filosofia/principios-filosoficos/369-a-educacao-e-uma-ciencia-trechos-de-anisio-teixeira.html


Em minhas recentes pesquisas deparei com estes belos trechos que resolvi compartilhar com vocês. Estão no livro "Educação e o mundo moderno", de Anísio Teixeira (ao lado).

Em que medida a educação pode ser considerada uma ciência? O que é exatamente ciência? Hoje em dia tentamos modernizar tudo, aceitamos qualquer gráfico que pareça científico como se fosse verdade e não fazemos isso à toa. Afinal, a ciência fez o homem dominar o átomo e ir pra Lua, não há porque duvidar dos cientistas.

Por outro lado, ciência é só uma palavra que nos dá a impressão de que milhares de pessoas em diversos momentos da história estavam (e estão) fazendo, no fundo, a mesma coisa. Mas, principalmente em tempos de predomínio do discurso científico, todos que puderem utilizarão este rótulo, alguns com cartas na manga, outros blefando. A questão não é simples, mas nada como uma boa leitura para arejar um pouco as ideias...

Coloquei uns subtítulos só pra facilitar a visualização. Façam bom proveito.


TRECHOS DE ANÍSIO TEIXEIRA

Arte e ciência da educação

"A arte de educar – a educação – nos últimos cem anos, passou por um desenvolvimento que se caracteriza por uma revisão de conceitos e de técnicas de estudo, à maneira, dir-se-ia, da transformação operada na arte de curar – a medicina – quando se emancipou da tradição, do acidente, da simples 'intuição' e do empirismo e se fez, como ainda se vem fazendo, cada vez mais científica. [...]
Como a medicina, a educação é uma arte. E arte é algo de muito mais complexo e de muito mais completo que uma ciência. Convém, portanto, deixar quanto possível claro de que modo as artes se podem fazer científicas.
Arte consiste em modos de fazer. Modos de fazer implicam no conhecimento da matéria com que se está lidando, em métodos de operar com ela e em um estilo pessoal de exercer a atividade artística."

A cientificação das atividades humanas

"A passagem, no campo dos conhecimentos humanos, do empirismo para a ciência foi e é uma mudança de métodos de estudo, graças à qual passamos a observar e descobrir de modo que outros possam repetir o que observamos e descobrimos e, pois, confirmar os nossos achados, que assim se irão acumulando e levando a novas buscas e novas descobertas.
[...]
as práticas fundadas no que a ciência observou, descobriu e acumulou, e, por seu turno, obedecendo aos mesmos métodos científicos, se transformaram em práticas tecnológicas e deste modo renovadas, elas próprias se constituíram em fontes de novos problemas, novas buscas e novos progressos."

Ciência, educação e formalismo

"Não se trata, pois, de criar propriamente uma 'ciência da educação', que , no sentido restrito do termo, como ciência autônoma, não existe nem poderá existir; mas de dar condições científicas à atividade educacional, nos seus três aspectos fundamentais – de seleção de material para o currículo, de métodos de ensino e disciplina, e de organização e administração das escolas. Por outras palavras: trata-se de levar a educação para o campo das grandes artes já científicas – como a engenharia e a medicina [...] Está claro que essa inteligência da arte de educar a afasta radicalmente das artes predominantemente formais, como a do direito, por exemplo, com a qual, aliás, temos, como país, uma irresistível inclinação a identificar a educação. [...] ainda consideramos educar antes como uma arte dominantemente formal, à maneira do direito, do que como uma arte material, à maneira da medicina ou da engenharia. Fora essa tendência distorsiva, mais entranhada quiçá do que o imaginamos e que importa evitar, a introdução de métodos científicos no estudo da educação não irá determinar nada de imediatamente revolucionário. As artes sempre progrediram. Mas, antes do método científico, progrediram por tradição, por acidente, pela pressão de certas influências e pelo poder 'criador' dos artistas."

O progresso científico é lento

"Não se diga, entretanto, que tenha sido sempre este o entendimento do que se vem chamando de ciência da educação, à qual já aludimos com as devidas reservas. Pelo contrário, o que assistimos nas primeiras décadas deste século e que só ultimamente se vem procurando corrigir foi a aplicação precipitada ao processo educativo de experiências científicas que poderiam ter sido psicológicas, ou sociológicas, mas não eram educacionais, nem haviam sido devidamente transformadas ou elaboradas para a aplicação educacional.[...] Houve, assim, precipitação em aplicar diretamente na escola 'conhecimentos' isolados de psicologia ou sociologia e, além disto, precipitação em considerar esses 'conhecimentos' verdadeiros conhecimentos. [...] Aí estão as ciências matemáticas e físicas com todo o seu lento evoluir até que pudessem florecer nas grandes searas das tecnologias [...] logo após vem o ainda mais lento progresso das ciências biológicas e a agronomia, a veterinária e a medicina como campos de aplicação tecnológica.
Para que as 'práticas' educativas possam também beneficiar-se de progresso semelhante, será preciso antes de tudo que as ciências que lhe irão servir de fontes se desenvolvam e ganhem a maturidade das grandes ciências já organizadas. Até aí, há que aceitar não só que o progresso seja lento mas também algo incerto e, sobretudo, não suscetível de generalização. Antes, porém, progredir assim, tateando, sentindo os problemas em toda a sua complexidade, mantendo em suspenso os julgamentos, do que julgar que podemos simplificar a situação"

"Convém insistir, realmente na distinção entre o campo da ciência e do conhecimento em si e o campo da aplicação do conhecimento e da prática ou da arte. [...] não produz a ciência, não produz o conhecimento científico, por si mesmos, uma regra de arte, ou seja, uma regra de prática.
[...]
Não quer isto dizer que ciência seja inútil, mas que a sua aplicação exige cuidados e atenções todo especiais, valendo o conhecimento científico como um ingrediente a ser levando em conta, sem perder de vista, todos os demais fatores. Em educação, muita coisa se fez em oposição a esse princípio tão óbvio, com a aplicação precipitada de conhecimentos científicos – ou supostamente científicos"

Educação e medicina

"Na própria medicina, com efeito, atrevo-me a afirmar, os princípios e leis da ciência servem antes para guiar e iluminar a observação, o diagnóstico e a terapêutica, não se impondo rigidamente como regras à arte médica, regras de clínica, regras imperativas da arte de curar. A ciência oferece, assim, a possibilidade de um primeiro desenvolvimento tecnológico, que fornece à arte melhores recursos para a investigação dos seus próprios problemas e, deste modo, sua melhor solução.
Num segundo desenvolvimento também tecnológico, oferece recursos novos para o tratamento e a cura, mas a arte clínica continua sendo uma arte de certo modo autônoma, a ser aprendida à parte, envolvendo métodos próprios de investigação e análise [...] em que, além de um conteúdo próprio mais amplo do que os puros fatos científicos, sobressaem sempre o estilo pessoal do médico, a sua originalidade e o seu poder criador. A ciência, aliás, longe de mecanizar o artista ou o profissional, arma a sua imaginação com os instrumentos e recursos necessários para seus maiores voos e audácias. Ora, o mesmo é o que há de ocorrer no domínio da educação – da arte de educar."


Fonte:

TEIXEIRA, Anísio. Educação e o mundo moderno. São Paulo: Ed. Nacional, 1977.

Vítimas da publicidade

Helena Mange Grinover & Márcia Arantes

http://vivazpsicologia.blogspot.com/

terça-feira, 28 de junho de 2011

A menininha coloca na cabeça a coroa da princesa, a peruca com longas tranças e pronto: virou princesa. O menininho veste a roupa do homem aranha e se torna super herói. Uma insígnia, um emblema, tem o poder de transformar suas identidades. Olham-se no espelho e sua imagem reunida a esses elementos dá a ilusão de que adquiriram capacidades, força, transformaram-se .

Um dos objetivos da publicidade é criar essa ilusão de que ter é igual a ser e nas crianças, especialmente, o efeito é certeiro - elas ficam aprisionadas pela imagem e passam a desejar o produto imediatamente, sem crítica.

Muitas vezes, os adultos também caem no engôdo de acreditar que por possuirem determinados objetos tornam-se outra pessoa. Entretanto, em crianças o efeito é mais preocupante. Quando ficam coladas à necessidade de posse de determinados produtos, diminuem a capacidade de usar o "faz de conta" para se transformar, empobrecem a construção da imagem pessoal e de suas potencialidades. Além disso, podem passar a acreditar que para serem valorizadas, amadas, admiradas, devem ser iguais a "maravilhosa"criança da propapanda e para tal, devem possuir os mesmos brinquedos que ela.

Numa sociedade que estimula ao extremo a posse de bens, invadindo diariamente os cidadãos com publicidades enganosas cada vez mais atraentes, torna-se muito mais penosa a tarefa de discriminar entre o que temos e o que somos.

É função primordial da educação, portanto dos pais, ajudar esses seres em formação a prosseguir nessa discriminação, a perceber que podem brincar de mamãe e filhinha independentemente de possuir a boneca 'x'. Em consequência também esses pais perceberão que sua excelência não está vinculada ao fornecimento de produtos aos filhos!